Desde o ótimo 'Temple of Shadows' que o ANGRA devia um álbum à altura de sua reputação. E foi necessária uma reestruturação para que a banda realmente voltasse a gravar uma obra relevante. Isso não aconteceu apenas devido a presença do vocalista Fábio Lione e do baterista Bruno Valverde, mas à coragem da banda em abrir mão de alguns vícios do power metal, projetando-se em direções mais progressivas.
Essa mudança fica evidente já na primeira faixa do álbum "Newborn me", que foge à cartilha do Angra de começar com uma música rápida, com bumbo duplo e fritações típicas. Ao contrário, temos uma faixa cadenciada em uma grande atuação de Lione, e uma belíssima passagem 'acústica' que antecede um solo cheio de feeling, além de um acréscimo percussivo muito bem vindo.
Mas é claro que seria impossível o Angra abandonar completamente o power metal. E a faixa "Black hearted soul" vem na sequência para aplacar a ansiedade dos fãs mais 'true' (mesmo assim a quebradeira no meio da música acaba sendo o seu diferencial, com Valverde 'descendo o braço' sem dó).
Em "Final Light" é o baixo de Felipe Andreoli que dita o ritmo em uma canção densa e poderosa e novamente com elementos percussivos bem encaixados. "Storm of the emotions" é uma das melhores músicas do Angra nos últimos tempos. A interpretação de Lione é fenomenal, assim como o belíssimo solo de guitarra, sem contar o refrão marcante e a primeira participação de Bittencourt nos vocais.
"Violet Sky" é a minha favorita. Uma faixa pesada e um riff que pouco se assemelha a outros trabalhos da banda, surpreendendo positivamente pela originalidade. A faixa conta com os vocais de Rafael Bittencourt, lembrando muito seu ótimo trabalho solo (Brainworms I). Aliás, ouvindo Rafael cantar eu me pergunto se o Angra precisava mesmo de um novo vocalista...
Dando sequência, temos "Secret Garden", que talvez seja o único deslize do álbum. A música sequer foi composta pela banda e a intepretação é toda de Simone Simons, da banda Epica. Além disso, sua orquestração exagerada faz com que a música por vezes pareça extraída de um musical da Disney. Tudo isso na FAIXA TÍTULO!!! Difícil entender a decisão da banda, que deve ter adotado critérios mais mercadológicos que musicais. Uma faixa para ser pulada sem muito remorso.
O álbum volta a sua normalidade com "Upper Levels", no momento mais prog do álbum. A variedade de timbres, nuances e alternâncias é preciosa, indo de riffs tipicamentes heavy a vocalizações que remetem ao clássico rock progressivo.
"Crushing Room" tem Bittencourt dividindo os vocais com ninguém menos que a eterna musa do hard/heavy Doro Pesch. Uma canção pesada, cadenciada e dramática, sendo um dos pontos altos do trabalho.
"Perfect Simmetry" retoma o power metal pra gurizada que gosta de bater cabeça. Enquanto "Silent Call" faz o contraponto, uma breve balada introspectiva como só o Angra sabe fazer e novamente com os vocais de Bittencourt, colocando fim a "Secret Garden".
Tirando o deslize da faixa título, um trabalho excelente, muito bem executado inclusive em sua parte gráfica, que deve devolver o Angra ao seu protagonismo na cena metálica.
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