RITA LEE sempre foi uma figura controversa no rock nacional. A forma como saiu dos Mutantes, desentendimentos com o Tutti Frutti (sua banda posterior), seu comportamento afrontador que a coloca como ícone feminista ainda que não se assumisse como tal, o estigma de ser "rockeira do sistema" por estar sempre na mídia. São muitos os aspectos de sua trajetória que renderiam horas de discussão.
Tantas polêmicas por vezes acabaram atrapalhando a apreciação completa de sua obra, mas é inegávell sua importância. E o grande mérito dessa autobiografia é dissipar quaisquer dúvidas em relação a sua grandeza artística e também como uma daa principais figuras femininas da nossa história recente.
Escrito sem o auxílio de "ghost writer", como a própria autora faz questão de frisar, o livro é dividido em capítulos curtos, quase como uma coletânea de crônicas. A ordem cronológica não é muito rigída e a escrita jocosa e irônica contém lá sua literalidade, tornando a leitura bastante prazerosa.
A primeira parte descreve a infância de Rita Lee, o convívio familiar, os primeiros contatos com a música, entre outros aspectos pessoais dentre os quais há um chocante relato de um abuso sofrido aos seis anos de idade.
Já na adolescência, as primeiras bandas, peripécias juvenis que já demonstravam o espírito zombeteiro que posteriormente seria marca registrada de sua carreira artística, o encontro com os irmãos Dias Baptista, o relacionamento com Arnaldo, tudo é desnudado de maneira sincera.
Sobre Os Mutantes, Rita é bastante dura em sua autocrítica. Embora não deixe de reconhecer o vanguardismo do grupo, os egos ao seu ver eram maiores que a sua arte.
Quanto a sua carreira solo, Lee a esmiúça comentado disco por disco, turnê por turnê e até mesmo com um faixa a faixa, revelando detalhes dos bastidores, das parcerias e da inspiração de seus maiores hits.
Há episódios prosaicos e engraçados como o roubo das cobras de Alice Cooper, uma improvável "suruba progressiva" com o YES ou os "bauretz" de Tim Maia. Mas há também dramas pessoais como a prisão enquanto grávida do primeiro filho (e a ajuda imprenscindível de Elis Regina), perdas familiares pirações das mais diversas procedências e internações em "rehabs" (no caso, hospícios mesmo).
E é claro que boa parte dessas desventuras acontecem ao lado de seu grande amor e parceiro musical Roberto de Carvalho, uma espécie de contraponto às loucuras de Rita Lee.
Enfim, uma leitura altamente recomendada para todos que se interessam pelo que aconteceu na época mais criativa da música popular brasileira e, é claro, indispensável aos fãs da mais mutante de todos os mutantes.
Veja também:
Resenha: Mujica - A Revolução Tranquila - Mauricio Rabuffetti
Nenhum comentário:
Postar um comentário