Como não vi Sócrates jogar, para mim ele sempre foi o irmão mais velho de Raí, terror do Morumbi e, junto com Zetti, grande ídolo futebolístico de minha infância.
Mas com o tempo veio a curiosidade de entender porque o "Doutor Sócrates" exerceu, e ainda exerce, tanto fascínio nos afficionados por futebol, sejam eles corintianos ou não.
Nesse sentido, a biografia escrita pelo jornalista Tom Cardoso é um excelente e didático guia.
Das origens humildes de sua família e seu estabelecimento em Ribeirão Preto, passando pelo início de carreira no Botafogo local, o que inclui antológicos "mim acher" no próprio pai, ao desenvolvimento de sua trajetória no Corinthians e na Seleção Brasileira (e também o fiasco no futebol italiano), o livro aborda de forma bastante clara e fluida os principais pontos que convergiram para que Sócrates se tornasse um ícone do nosso esporte favorito.
Estão lá todas as polêmicas e contradições do craque: o jogador que não soube ser atleta, o médico que não cuidou da própria saúde, o criador da "democracia corintiana" admirador da esquerda mais extrema a ponto de batizar um de seus filhos de Fidel.
Sem muita especulação, vemos um retrato bastante fidedigno de Sócrates, com depoimentos de pessoas que conviveram com ele e de trechos de uma autobiografia não acabada.
De quebra, ainda temos insights diversos sobre um período crucial de nossa história, com a redemocratização do país e seus dilemas, é uma nova luz sobre outras figuras importantes do nosso esporte, como o próprio Raí, Casagrande, o mestre Telê Santana, entre outros.
Com isso, o autor escapou da armadilha do clubismo e criou uma obra que pode ser facilmente digerida por todos aqueles que gostam de pensar o jogo além das quatro linhas.
Veja também: