Que nada mais é sagrado no futebol já sabemos faz tempo. Mas mesmo assim algumas heresias chegam a ser constrangedoras. A última delas diz respeito à centenária Ponte Preta, um dos clubes mais simpáticos e tradicionais do Brasil, que decidiu que a "Macaca" não a representa mais e decidiu oficializar um Gorila como mascote.
Há notícia revoltou parte da torcida ponte-pretana. A Macaca não foi um mascote escolhido aleatoriamente. Foi uma construção social e histórica que remete ao início do futebol no Brasil e a questões raciais. Sendo um dos clubes pioneiros na aceitação de negros, a Ponte Preta era hostilizada pelos rivais do interior que chamavam a agremiação e seus torcedores de "macacada".
De maneira extraordinária, a torcida subverteu esse discurso racista, assumindo o apelido de Macaca, mostrando que em hipótese alguma questões raciais eram motivo de vergonha.
Agora, na era do marketing, o que parece é que a valente Macaquinha não serve mais aos "ideais" da diretoria do clube. Para contornar a situação, criou-se o enredo de que o Gorila casou-se com a Macaca, dando origem a uma família. Precisa dizer mais alguma coisa?
Há ainda quem considere que questões de gênero motivaram a mudança. Um mascote feminino não é tão fácil de ser vendido em um universo ainda tão machista e homofóbico quanto o do futebol. Mas esse deveria ser mais um motivo para a manutenção da Macaca. Afinal, resistir e lutar contra preconceitos sempre foi sua vocação.
Mas o mais triste mesmo é que o conceito de tradição vai morrendo lentamente. Futebol é cada vez mais entretenimento do que paixão.
Hino da Ponte Preta na Guitarra
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